quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Candidatos do mercado se comunicam consigo mesmos



É no mínimo muito divertido assistir à evolução na avenida desses pré-candidatos a presidente da república lançados por si próprios, com ideias que agradam ao mercado financeiro.

Parecem crer piamente que bandeiras como a reforma da previdência, privatizações, redução do tamanho do estado etc. irão sensibilizar o eleitorado a ponto de leva-los à Presidência (ou melhor, à “gestão” do País, como está em moda dizer).

Pesquisa e comunicação não parecem estar no cardápio de suas pré-campanhas, caso contrário conheceriam melhor esses muitos milhões de eleitores, seu grau de informação, suas agruras, necessidades e anseios.

E suas mensagens seriam formuladas e dirigidas a essas pessoas reais, não aos colegas do mercado, como acontece atualmente. Um marciano que desembarcasse no Brasil, ao ler suas entrevistas e frases na mídia, poderia pensar que banqueiros, o pessoal de agências de risco e analistas financeiros são quem elege candidatos a presidente por aqui.

Na verdade a impressão que se tem é de que, no fundo no fundo, eles gostariam mesmo é de ser deputados ou senadores – representando algum setor financeiro ou empresarial – não presidente da república.

A coisa toda é tão irreal – banqueiros, varejistas, apresentadores de TV apregoando a frio bandeiras obviamente impopulares, como se elas pudessem apaixonar as grandes massas – que se tem a sensação de um mau filme absurdo que tenta imitar os do Monty Python.

Lembrar que o único interesse do eleitor é saber O QUE ELE GANHARIA COM AS PROPOSTAS DE UM CANDIDATO, QUE VANTAGEM ELE LEVARIA COM A IMPLANTAÇÃO DESSAS IDÉIAS, não parece passar-lhes pela cabeça.

O mínimo que poderiam fazer, para levar suas candidaturas a sério, é virar essas bandeiras pelo avesso, utilizando todas as oportunidades para mostrar ao povo – aquele que realmente elege – quais as vantagens, para esse povo, das propostas que apresentam.

Só que, para isso, precisariam primeiramente conhecer o eleitor, por meio de muita pesquisa – das quais, pelo jeito, eles atualmente passam longe. 

A seguir teriam de formular mensagens, dirigidas a esse eleitor, não a seus colegas de Febraban ou de seminários de empresários, mostrando – emocionalmente, não racionalmente – que vantagens concretas terá o povo brasileiro com sua plataforma liberal.

Finalmente, teriam de ir procurar esses eleitores nos lugares onde eles estão – pela mídia adequada, não só por jornais de classe A/B – e martelar essas mensagens em todas as chances que tivessem. (E conseguir essas chances também precisaria fazer parte do esforço de campanha).

Tudo óbvio. Nada disso é original, ou, como dizem os americanos, difícil como rocket science. Mas não parece passar pelas cabeças desses nefelibatas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário