Quando postei esse comentário anterior, sobre a necessidade de imposição de metas de comunicação institucional para as empresas prestadoras de serviço de caráter público, recebi algumas críticas, entre as quais a da Flávia Sekles, no sentido de que melhor seria os consumidores tomarem a iniciativa de cobrar essas informações, do que o governo regular as empresas.
De lá para cá também houve algumas manifestações públicas de empresas de telefonia. Mas foram manifestações de ordem publicitária e cosmética. Uma delas, ilustrada pela linda Fernanda Lima. Outra, com o presidente do Conselho Manoel Horácio. Personagens marcantes. Mas meros monólogos. E de conteúdo sempre vago, com expressões-clichês tipo "compromisso com o Brasil", "investimento de vários milhões de reais" etc.
De informação específica, que é o que interessa, nada. Quais serão, efetivamente, as melhoras no serviço? E até que data isso será feito? Por que não foi feito antes que o governo desse um soco na mesa? Coisas assim, básicas, que o consumidor continua sem saber - por isso, claro, condena as empresas.
Meu real objetivo, quando publiquei aquele texto anterior, era levantar uma bola quicando na frente do gol, para que as empresas - todas, algumas, ou uma delas pelo menos - percebessem a ótima oportunidade que se coloca para que elas próprias tomem a iniciativa de dar informações concretas e sistemáticas à sociedade, sem esperar que o governo o exija.
No mínimo a empresa que adotasse essa estratégia estaria, a um tempo, saltando à frente dos concorrentes em termos de reputação e imagem de marca; tornando-se simpática aos órgãos governamentais de regulamentação, ao mostrar-se ativamente disposta a melhorar seus serviços; ampliando seu capital de confiabilidade junto aos seus clientes atuais; abraçando maior fatia de clientes futuros; e tornando-se referência como fonte confiável junto à imprensa.
Pelo jeito, eu estava sendo idealista demais. Mas ainda há tempo. A bola continua quicando.
sexta-feira, 27 de julho de 2012
domingo, 22 de julho de 2012
Transparência e comunicação, dever empresarial de quem fornece serviços públicos
O artigo de hoje do Ethevaldo Siqueira no Estadão (Uma palavra à presidente) reforçou um pensamento que eu vinha ruminando esses dias, em face da recente punição da ANATEL às operadoras de celular, proibindo-as de vender novas assinaturas enquanto não melhorarem seus serviços.
Sim, parece haver concordância geral de que o governo deve estabelecer metas de ampliação de cobertura, melhora do atendimento, investimentos em tecnologia e infraestrutura etc., a serem cumpridas pelas empresas concessionárias de serviços públicos. Não só da telefonia celular, mas de todos os serviços desse tipo que o governo privatizou, concedeu ou permite.
Seguro-saúde, telefonia fixa e celular, rodovias, serviços financeiros, educação, saúde pública, previdência, rodovias, energia, transportes, segurança etc., todos esses serviços de caráter público prestados por empresas privadas, precisam ter metas de operação definidas pelo governo e o cumprimento desses objetivos tem de ser assegurado pela fiscalização da autoridade governamental.
O que me ocorre é que uma dessas metas deveria estabelecer o grau de transparência e comunicação que essas empresas devem ter com a população. Patrocinar shows artísticos, a publicação de livros, a produção de obras cinematográficas - iniciativas culturais, enfim, com ou sem apoio da renúncia fiscal proporcionada por leis federais e estaduais - não contam nesse quesito. São ações válidas, mas ligadas ao interesse reputacional e/ou comercial das empresas. Não ampliam seu grau de transparência operacional, accountability e comunicação sobre seus negócios com a população e sobre a qualidade dos serviços que lhe prestam.
Na minha visão, além de exigir o cumprimento de metas operacionais ligadas à melhora de seus serviços, cujo cumprimento é fiscalizado apenas por agências e órgãos governamentais, o governo deveria convocar à participação o mais eficaz e econômico de todos os fiscais, que é a população.
Nesse sentido, deveria determinar que as empresas que prestam serviços de caráter público (não suas associações setoriais, mas empresa por empresa individualmente) também precisam, por exemplo: a) divulgar em seus sites, online, diaria ou semanalmente - com números, não apenas com palavras -seus indicadores fundamentais, como melhora e ampliação de cobertura e serviços, redução de custos e de emissões, investimentos etc.; b) pelo menos a cada trimestre ou semestre, publicar em seus sites e em anúncios publicitários um "balanço social de prestação de serviços", com seus indicadores fundamentais de progresso - e de problemas também - nessa missão; c) promover entrevistas coletivas à imprensa, a cada trimestre, quadrimestre ou semestre, em que devem abrir todos esses indicadores para os jornalistas e seus principais executivos devem abrir-se ao questionamento de todo e qualquer dado e serviço de sua responsabilidade, dando respostas com dados concretos; d) promover audiências públicas, talvez anuais, sobre os serviços que prestam.
Aposto que, com a imposição de tais metas de transparência e comunicação institucional, todos esses serviços de caráter público que são prestados por empresas privadas irão melhorar rapida e radicalmente.
Sim, parece haver concordância geral de que o governo deve estabelecer metas de ampliação de cobertura, melhora do atendimento, investimentos em tecnologia e infraestrutura etc., a serem cumpridas pelas empresas concessionárias de serviços públicos. Não só da telefonia celular, mas de todos os serviços desse tipo que o governo privatizou, concedeu ou permite.
Seguro-saúde, telefonia fixa e celular, rodovias, serviços financeiros, educação, saúde pública, previdência, rodovias, energia, transportes, segurança etc., todos esses serviços de caráter público prestados por empresas privadas, precisam ter metas de operação definidas pelo governo e o cumprimento desses objetivos tem de ser assegurado pela fiscalização da autoridade governamental.
O que me ocorre é que uma dessas metas deveria estabelecer o grau de transparência e comunicação que essas empresas devem ter com a população. Patrocinar shows artísticos, a publicação de livros, a produção de obras cinematográficas - iniciativas culturais, enfim, com ou sem apoio da renúncia fiscal proporcionada por leis federais e estaduais - não contam nesse quesito. São ações válidas, mas ligadas ao interesse reputacional e/ou comercial das empresas. Não ampliam seu grau de transparência operacional, accountability e comunicação sobre seus negócios com a população e sobre a qualidade dos serviços que lhe prestam.
Na minha visão, além de exigir o cumprimento de metas operacionais ligadas à melhora de seus serviços, cujo cumprimento é fiscalizado apenas por agências e órgãos governamentais, o governo deveria convocar à participação o mais eficaz e econômico de todos os fiscais, que é a população.
Nesse sentido, deveria determinar que as empresas que prestam serviços de caráter público (não suas associações setoriais, mas empresa por empresa individualmente) também precisam, por exemplo: a) divulgar em seus sites, online, diaria ou semanalmente - com números, não apenas com palavras -seus indicadores fundamentais, como melhora e ampliação de cobertura e serviços, redução de custos e de emissões, investimentos etc.; b) pelo menos a cada trimestre ou semestre, publicar em seus sites e em anúncios publicitários um "balanço social de prestação de serviços", com seus indicadores fundamentais de progresso - e de problemas também - nessa missão; c) promover entrevistas coletivas à imprensa, a cada trimestre, quadrimestre ou semestre, em que devem abrir todos esses indicadores para os jornalistas e seus principais executivos devem abrir-se ao questionamento de todo e qualquer dado e serviço de sua responsabilidade, dando respostas com dados concretos; d) promover audiências públicas, talvez anuais, sobre os serviços que prestam.
Aposto que, com a imposição de tais metas de transparência e comunicação institucional, todos esses serviços de caráter público que são prestados por empresas privadas irão melhorar rapida e radicalmente.
Big Brother chegou?
Conheci há tempos o francês que presidia a Fundação Fredrik
Rosing Bull, cujo nome homenageia um talentoso engenheiro norueguês que nasceu
em 1882 e foi pioneiro no desenvolvimento tecnológico da Europa. Essa fundação
foi criada pela Bull, empresa também batizada em homenagem a esse engenheiro, líder
francesa do desenvolvimento da tecnologia digital, que atualmente, como Groupe
Bull, atua em uma centena de países, inclusive o Brasil.
Seria importante que alguma editora publicasse esse livro em português no Brasil. Deveriam lê-lo todos os que, no governo e fora dele, se preocupam com a manutenção das nossas liberdades individuais, da liberdade de expressão e de imprensa, no contexto maior dos direitos humanos, em face do inapelável avanço dos recursos eletrônicos, que, por sua própria natureza, tendem a se tornar cada vez mais invasivos e controladores. Da mesma forma que as burocracias.
Também deveriam ler esse inquietante livro os que defendem a unificação do número de identificação dos cidadãos; os que se opõem ou resistem à Lei de Acesso à Informação Pública, que entrou em vigor no Brasil em Novembro último; os que escancaram abundantes informações e fotos de sua vida e de seus filhos, outros parentes e amigos nos Facebooks da vida; os que criam sistemas de “mineração de dados” que permitem às empresas prever o comportamento, preferências e tendências de consumo dos cidadãos; os que possibilitam que a moça da central de telemarketing que nunca me viu na vida me ligue à noite, em casa, me chamando pelo nome, para vender algum produto.
É cada vez mais fácil usar todos esses mesmos recursos que aumentam nossa eficiência e produtividade – e o muito mais que vem por aí na tecnologia digital – também para nos invadir, nos controlar, nos manobrar e nos dominar.
Na minha conversa com o presidente dessa Fundação – que
estuda as conseqüências econômicas, sociais e humanas do emprego generalizado
da informática – surpreendi-me quando ele disse que sua entidade era contrária
à identificação das pessoas, pelo Estado, com um número único para cada
indivíduo (RG, CPF, carteira de motorista, título de eleitor etc., todos com o
mesmo número), coisa que, na minha santa ignorância, parecia lógica, eficiente,
racional e facilitadora da vida das pessoas.
Essa conversa e a minha ignara perplexidade aconteceram há
quarenta anos.
Dando um fast-forward
para os dias de hoje, acabo de ler um livro assustador (infelizmente ainda não
publicado em português) que me recordou esse episódio. Chama-se Dying Light(*), do jornalista inglês
Henry Porter, que vem-se dedicando à luta pelos direitos humanos, liberdades
civis e de expressão na Grã Bretanha. Publicada em 2009, a obra veio à luz, por
coincidência, exatamente 60 anos depois da primeira edição de 1984, do também inglês George Orwell,
ficção que previa a instalação de uma ditadura mundial em que cada cidadão era
espionado e todos os detalhes de sua vida absolutamente controlados pelo
governo (o Big Brother), por meio de
um sistema de câmeras e comunicação eletrônica.
Na base do raciocínio do autor de Dying Light está a constatação de que, se por um lado esses
sistemas proporcionam os benefícios de melhores serviços públicos, maior
segurança e capacidade de prevenção de atividades criminosas, ao mesmo tempo
apresentam o grande risco de colocar nas mãos de quem exerce o governo o potencial
para asfixiar a opinião pública e destruir a base da democracia, que é o poder exercido
pelo povo e para o povo – não por e para quem possui os poderes do Estado.
A partir do contexto real de prevenção e combate ao
terrorismo que se implantou nos mandatos de George W. Bush nos EUA e Tony Blair
na Grã Bretanha, o livro de Henry Porter pinta uma situação imaginária em que o
primeiro-ministro inglês prepara simplesmente a instalação de uma ditadura,
graças a sistemas de comunicação e informação que lhe propiciam o controle
absoluto e total da vida e de todos os atos (inclusive atitudes políticas) dos
cidadãos.
E o mais grave é que,
apesar de ser obra de ficção, como 1984,
o livro cita legislação real em vigor hoje na Inglaterra – e, pior ainda,
assinala que todas essas leis restritivas à liberdade individual foram
tranquilamente aprovadas e implantadas, com pouca discussão, debate ou reação
da complacente e acomodada opinião pública, interessada apenas na sua rotina da
vida diária e – como eu, quarenta anos atrás – sem levar em conta o risco
político embutido nessas leis.
Segundo Porter, num comentário autoral publicado como posfácio ao
livro, “os britânicos passaram a ser os cidadãos mais estritamente controlados
do Ocidente, talvez de todo o mundo. Temos mais câmeras nas ruas que a soma de
aparelhos instalados em todo o resto da Europa. Essas câmeras infestam não só
as ruas e os shopping centers, mas
também restaurantes, cinemas e bares por toda parte, que fotografam a cabeça e
os ombros de cada individuo que neles entra.”
E prossegue: “As pessoas são vigiadas o tempo todo. Ao
viajar pelas rodovias todos são monitorados por câmeras que lêem as placas dos
carros e os dados de cada viagem são armazenados por cinco anos.” E por aí vai.
Tudo abençoado por legislação vigente no país. O governo,
segundo Porter, tem o direito de acessar os dados telefônicos e online de todas as pessoas, acompanhar e
registrar a vida de seus filhos num banco de dados nacional e exigir mais de 50
informações de cada cidadão que deseja sair de seu próprio país. Transações
individuais, dados sobre a saúde de cada um, tudo armazenado para sempre em
bancos de dados.
Um diploma legal que merece especial atenção em Dying Light é o Civil Contingencies Act 2004 (Lei de Contingências Civis, de 2004),
que, segundo Porter, “permite que o primeiro-ministro, um ministro ou o líder
do governo na Câmara desmantele da noite para o dia a democracia e o império da
lei”. Citando outros autores, ele comenta que essa lei permite ao governo a
suspensão de viagens, ocupação de propriedades, evacuação forçada, tribunais
especiais e detenção e prisão arbitrárias.Seria importante que alguma editora publicasse esse livro em português no Brasil. Deveriam lê-lo todos os que, no governo e fora dele, se preocupam com a manutenção das nossas liberdades individuais, da liberdade de expressão e de imprensa, no contexto maior dos direitos humanos, em face do inapelável avanço dos recursos eletrônicos, que, por sua própria natureza, tendem a se tornar cada vez mais invasivos e controladores. Da mesma forma que as burocracias.
Também deveriam ler esse inquietante livro os que defendem a unificação do número de identificação dos cidadãos; os que se opõem ou resistem à Lei de Acesso à Informação Pública, que entrou em vigor no Brasil em Novembro último; os que escancaram abundantes informações e fotos de sua vida e de seus filhos, outros parentes e amigos nos Facebooks da vida; os que criam sistemas de “mineração de dados” que permitem às empresas prever o comportamento, preferências e tendências de consumo dos cidadãos; os que possibilitam que a moça da central de telemarketing que nunca me viu na vida me ligue à noite, em casa, me chamando pelo nome, para vender algum produto.
É cada vez mais fácil usar todos esses mesmos recursos que aumentam nossa eficiência e produtividade – e o muito mais que vem por aí na tecnologia digital – também para nos invadir, nos controlar, nos manobrar e nos dominar.
(*) Originalmente lançado pela editora britânica Orion
Books, o livro foi publicado também em edição norte-americana pela Atlantic
Monthly Press, com o título The Bell
Ringers. Ambas as edições podem ser adquiridas na Amazon, em forma impressa
ou eletrônica.
sábado, 21 de julho de 2012
Universitários analfabetos
Trinta e oito por cento, mais de um terço dos estudantes
universitários brasileiros, não conseguem interpretar e associar informações,
quando leem um texto. E 27% da população total estão na mesma situação. Ou
seja, são analfabetos funcionais, que conseguem ler e escrever, mas não compreendem,
segundo o Indicador de Analfabetismo Funcional determinado por meio de pesquisa
e testes pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ong Ação Educativa.
Esse dado constrangedor, absurdo – mas não supreendente,
para quem é responsável pelo recrutamento de fucionários nas empresas e
organizações e por isso conhece no dia-a-dia a pobreza intelectual da grande
maioria dos candidatos – mostra como anda mal nosso ensino e o muito, mas muito
mesmo, que precisa ser feito para sairmos desse pântano de ignorância.
Mas também explica, ou pelo menos ilumina, alguns outros
fenômenos que interessam a quem lida com Assuntos Institucionais Empresariais.
Explica, por exemplo, por que razão os jornais e revistas no
Brasil têm circulação relativamente minúscula, num país de 200 milhões de
pessoas. Pudera! Se nem universitários entendem direito o que leem, claro que a
imensa maioria da população não vai gastar dinheiro em publicações que precisam
ser lidas.
De outra parte essa tragédia está na raiz também de serem o
radio e a televisão tão populares: não precisam ser lidos, só vistos e ouvidos.
E quanto mais medíocre e ralo o conteúdo, maior a audiência.
Para os responsáveis pela comunicação entre as empresas, a
comunidade e a opinião pública, essa vergonha nacional mostra claramente por
que precisam buscar meios diversos do texto escrito para alcançar a eficácia.
De nada adianta fazer apenas um magnífico folheto ou jornal em papel brilhante,
se nem os universitários conseguem entender direito o que está escrito.
O que vale são imagens e sons, textos falados. Quanto a
textos escritos, só com frases curtas, letras grandes e orações diretas. Nada
de volteios de estilo e rebuscamentos eruditos.
Quem dorme feliz com esse quadro revoltante são os maus
políticos, que não se preocupam muito com prejuízos eleitorais que poderiam ser
causados pelas denúncias que lhes são feitas diariamente, caso tivéssemos uma
população melhor educada. “O povo não está nem aí”, pensam – e até dizem –
sobre essa questão.
Claro. Se nem universitários entendem o que leem...quinta-feira, 19 de julho de 2012
Sustentabilidade, do mero discurso para a mensuração efetiva
Sustentabilidade empresarial é um conceito magnífico,
mas difícil de medir, por abarcar praticamente a vida operacional inteira de
uma companhia, em todos os detalhes. O professor Marcos Felipe Magalhães,
pesquisador no Instituto de Economia da UFRJ, vem há alguns anos desenvolvendo e
aperfeiçoando uma “régua” para fazer essa mensuração, com uma abordagem
microeconômica, que me parece absolutamente inovadora, abrangente e de grande
utilidade para ampliar a transparência das decisões das organizações
preocupadas com o futuro de seus fatores de produção: Terra, Sociedade, Capital
e Trabalho.
O modelo procura medir quais são os esforços
concretos de uma organização em sua sustentabilidade, computando os gastos efetivamente
realizados por ela nos setores ambiental, social, corporativo e de recursos
humanos. Valendo-se apenas e tão somente dos princípios contábeis de aceitação
universal, a ferramenta, chamada Perfil SOI (Sociedade, Organização e
Indivíduo), pretende ser um instrumento especialmente importante para ajudar os
Conselhos a validar a execução das estratégias em alinhamento com o discurso
dos gestores.
O Perfil SOI consiste, simplificadamente, em re-arranjar
as despesas efetuadas pela empresa, agrupando algumas contas de seu Plano em
sete rubricas (Valores, Meio Ambiente, Desenvolvimento humano, Infraestrutura econômica,
Continuidade, Reputação e Recursos Humanos) para identificar, no plano
conceitual, qual é o esforço despendido pela empresa a cada ano, para ser bem
sucedida em cada uma dessas rubricas.
Este modelo poderá vir a ter a mesma importância,
em um conjunto mais amplo de variáveis, que o Balanço Social do IBASE teve nos
anos 90. E poderá constituir valiosa
contribuição do mundo acadêmico para integrar na prática os conceitos de
sustentabilidade, também por não se tratar de projeto meramente comercial, mas de
grande impacto.
Para tirar a sustentabilidade do discurso e
colocá-la na ponta do lápis, as organizações precisam reconhecer quais são seus
dispêndios que contribuem para os programas e ações que recompensam os recursos
de produção e operação, a fim de assegurar a continuidade dos negócios.
Autor do modelo Excelencia Competitiva, vencedor do
premio Oscar Niemeyer 2011, outorgado pelo CREA-RJ, o prof. Marcos Felipe Magalhães – que, além de acadêmico,
tem também rica experiência empresarial, tendo sido diretor da Coca Cola e
presidente da ABA-Associação Brasileira de Anunciantes – está oferecendo às
organizações interessadas a oportunidade de participar da construção
compartilhada desta metodologia. Todos os dados do estudo serão tratados individualmente
pela própria empresa ou organização e preservados internamente. E os direitos
de uso do modelo serão gratuitos para as organizações participantes do
desenvolvimento do Perfil de Sustentabilidade SOI.
terça-feira, 17 de julho de 2012
Dois artigos de Fernando Rios, jornalista e mais uma porção de outras coisas interessantes
COMUNICAÇÃO: O EXERCÍCIO DIÁRIO DA HUMANIDADE
1. Comunica-se
sempre, para o bem e para o mal.
Fernando Rios
O ser humano é o animal mais
comunicativo que existe. Por isso ele se transformou em ser humano. Eu
comunico, tu comunicas, ela comunica, ele comunica, nós comunicamos, vós
comunicais, eles comunicam, elas comunicam. Eu falo, tu gesticulas, ela escolhe
um vestido, ele usa terno, nós gritamos gol, vós entoais hinos, elas ganham
flores, eles dão flores. E, nos tempos atuais, já pode ser vice-versa.
Em cada ação há uma
comunicação. Em cada comunidade humana há regras e normas para o
relacionamento. E, em cada tempo e espaço, registramos mudanças no
relacionamento. E tudo é expresso pela comunicação, uma atividade em constante
processo, em eterna mudança.
O ser humano é o animal mais
comunicativo que existe. Simplesmente porque o ser humano inventou um jeito,
quer dizer, vários jeitos, várias maneiras de expressar aquilo que sente.
Quantos animais sabem
comunicar? Está certo, o cachorro comunica. O gato comunica. O leão, o
elefante, os macacos, as aves. Mas o que eles comunicam? Estarão esses animais
comunicando o seu pensamento, o seu afeto, a sua visão de mundo, o seu desejo,
o seu prazer? É até possível. Mas por que esse tipo de comunicação entre
aqueles animais é tão padronizado, tão repetitivo?
Duas coisas aconteceram para
que nossos ancestrais hominídeos se transformassem em seres humanos e se
diferenciassem dos outros animais: o pensamento simbólico e uma forma de
expressar esse pensamento, verbalmente ou por algum tipo de registro, como por
exemplo a escrita, desenhos, sons musicais, dança, gestos etc.
Daí para frente, aquele
animal que era um projeto de ser humano se transformou em um verdadeiro ser
humano. Daí para frente, o ser humano jamais deixou de comunicar.
O ser humano se comunica
consigo mesmo, o ser humano se comunica com os outros seres humanos, o ser
humano se comunica com os outros animais.
E nos transformamos em comunicadores
O ser humano, em dado
momento, aprendeu a falar. Era diferente de grunhir, de simplesmente emitir
sons. Foram necessários milhares e milhares de anos para que o ser humano
aprendesse a falar.
Então, o ser humano reuniu
suas experiências de vida e, num primeiro momento, passou a contá-las para seus pares. Ele já sabia
gesticular, já sabia expressar verbalmente suas emoções. Mas fazia tudo gestual
e oralmente. Na verdade, foi um grande passo, porque já se podia comunicar a
representação do real, já se podia contar histórias e memórias.
Porém, quando o ser humano
aprendeu a escrever, aconteceu uma grande revolução. Ficou mais fácil
transmitir os pensamentos e as emoções, porque ele passou a registrar seus
sentimentos e conhecimentos. E muito mais seres humanos tiveram acesso às
informações.
Hoje, nós somos absolutamente
seres comunicativos. Somos essencialmente comunicadores. Comunicamos e somos
comunicados. Seja pela comunicação interpessoal, seja pela comunicação de
massa.
Comunicamos pela roupa, pelos
gestos, pelos olhares, pelo andar, pela voz, pelas vozes, pela intensidade da
voz. Comunicamos até pelo silêncio. “Quem cala consente”, diz o ditado. Mas, na
verdade, não sabemos se concorda ou discorda. O fato é que quem cala também se
comunica. Cabe ao interlocutor do silêncio compreendê-lo.
Quando coçamos a cabeça,
estamos comunicando. Quando assobiamos, estamos comunicando. Quando levantamos
o braço, estamos comunicando.
Nós nos comunicamos o tempo
todo. Para o bem e para o mal. Para mostrar solidariedade ou para agredir. Para
demonstrar poder, submissão ou igualdade.
A comunicação é o que
aproxima e afasta os seres humanos entre si.
Tudo o que fazemos quer dizer
alguma coisa.
E a comunicação é tão mais
eficiente quando quanto mais o que dizemos está próximo do que queremos dizer.
Cada gesto, cada olhar, cada
som que emitimos, tudo quer dizer alguma coisa.
É isso que nos torna humanos.
É a comunicação que possibilita
o entendimento e a discórdia.
Fernando Rios é jornalista,
antropólogo, poeta, artista plástico, designer gráfico e consultor em
comunicação empresarial integrada. www.fernandorioscom.art.br
COMUNICAÇÃO: O EXERCÍCIO DIÁRIO DA HUMANIDADE
2.
O
ser humano se comunica o tempo todo
Fernando Rios
Certamente, quando nos
comunicamos, queremos ser entendidos. Queremos que aqueles e aquelas com quem
nos comunicamos recebam a comunicação.
Ou melhor, recebam a
informação. Porque nós comunicamos informações.
Comunicar quer dizer tornar
comum alguma coisa que foi colocada numa forma, algo que foi informado. Um
signo, um sinal, um símbolo, uma letra, uma palavra, um desenho, um gesto.
Tornamos comum aquilo que
colocamos em uma forma.
Claro, até um gesto tem uma
forma, uma forma em movimento. E ele quer dizer alguma coisa. A dança é uma
forma em movimento. E como comunica...
Dormindo, nos comunicamos:
com os outros, pelo corpo; conosco, pelo inconsciente.
Um sinal de trânsito apagado
é apenas um objeto. Quando brilha, nos seus vermelhos, amarelos e verdes, ele
diz...
Um rosto impassível... comunica
passividade. Um cenho franzido comunica preocupação.
Um punho fechado pode
anteceder um soco. Depende do movimento.
Uma mão aberta pode anteceder
um carinho. Depende do gesto.
A comunicação afasta ou aproxima. Às vezes, a ambiguidade do gesto
traz confusão. O interlocutor não sabe o que aquilo representa. Isso significa
ruído. Ruído na comunicação. Ruído é algo que não permite que a comunicação se
complete.
Porque a comunicação é um
processo. Um processo que tem ida e tem volta. Alguém utiliza um meio para
informar algo a uma pessoa.
De forma bem simplificada, o
processo de comunicação pode ser resumido assim: sujeito - mensagem ou informação – meio ou canal –
sujeito a quem se dirige a comunicação – retorno. Tudo mediado por
comportamentos. Físicos ou mentais.
É mais ou menos assim: um
sujeito escolhe um meio ou canal para transmitir uma mensagem ou informação a
outro sujeito e espera um retorno.
Nesse processo, a pessoa para
a qual a mensagem foi enviada precisa ser sensibilizada e mostrar que a
recebeu. Se o processo não se completar, a comunicação não existiu.
Algo interrompeu o processo.
Esse algo é o ruído na comunicação.
Passamos toda a nossa vida
dando e recebendo informações por meio do processo de comunicação.
E nem nos damos conta disso.
Desde que nascemos... Para dizer a verdade, até mesmo antes de nascer, porque
já se comprovou que o bebê, no ventre materno, recebe e transmite informações.
Então, desde antes de nascermos até a hora que morremos.
A vida que surge no bebê
informa que ali há vida. O corpo inerte informa que ali há morte.
Bem, essa é a nossa vida,
toda ela criada em torno da comunicação.
Fernando Rios é jornalista,
antropólogo, poeta, artista plástico, designer gráfico e consultor em
comunicação empresarial integrada. www.fernandorioscom.art.br
É a democracia, estúpidos!
Para qualquer cidadão, mas especialmente para quem trabalha com Assuntos Institucionais, é alarmante o resultado de uma pesquisa do instituto chileno
Latinobarometro que a Folha de S.Paulo
publicou no final do ano passado.
Ela mostra que naquele ano o apoio da população brasileira à democracia desabou de 54% para 45%. Caiu mais que a média de apoio na América Latina. Ou seja, menos de metade da nossa população prefere a democracia a qualquer outra forma de governo. A maioria acha que um governo autoritário pode ser preferível a um democrático, ou então que dá na mesma a democracia ou o autoritarismo.
livremente sobre todos os assuntos;
Ela mostra que naquele ano o apoio da população brasileira à democracia desabou de 54% para 45%. Caiu mais que a média de apoio na América Latina. Ou seja, menos de metade da nossa população prefere a democracia a qualquer outra forma de governo. A maioria acha que um governo autoritário pode ser preferível a um democrático, ou então que dá na mesma a democracia ou o autoritarismo.
Vivo hoje, à vista desse fato, Nelson Rodrigues diria que,
além da unanimidade ser burra, a maioria é estúpida. Parece incrível que, numa
nação que foi vítima da opressão de uma ditadura, mais de metade da população
pense que um governo totalitário pode ser melhor que a democracia, ou que tanto
faz.
É por isso que tem tanta importância o trabalho que vem
sendo feito pelo Instituto Vladimir Herzog, com seu projeto “Resistir é
preciso...”, resgatando os jornais e jornalistas que, nas bancas, na
clandestinidade ou no exílio, combateram a ditadura. Em vídeos, livros,
documentários e outras iniciativas, o Instituto insere na História do Brasil e
procura mostrar a todos, principalmente aos mais jovens, qual era a realidade
que vivíamos nos anos de chumbo. Para que não permitamos que isso aconteça de
novo.
Os estúpidos que dispensaram a democracia nessa pesquisa do
Latinobarometro não sabem que, sem democracia:
1.
A imprensa amordaçada não poderia denunciar
corrupção nos governos, nem opinar livremente sobre todos os assuntos;
2.
Um presidente da República rejeitado pela
população não teria sido castigado pelo impeachment;
3.
Um presidente que terminou oito anos de mandato
com apoio de 86% da população, também segundo o Latinobarometro, não poderia
sequer ter sido eleito;
4.
O fim do sigilo eterno de documentos do governo
e a criação da Comissão da Verdade, já em vigor, nem
projetos teriam sido;
5.
O Brasil não viveria o atual desenvolvimento social e
econômico, nem gozaria do respeito que hoje lhe dedicam os outros países;
6.
Nenhuma crítica ao governo seria permitida – por
jornalistas, por sindicalistas, por estudantes, por políticos, ou por quem quer
que fosse;
7.
A corrupção, a incompetência e o desmando de
governantes e funcionários públicos estariam permanentemente acobertados pela
intransparência do poder totalitário;
8.
Estaríamos todos continuamente sob a ameaça
arbitrária de sequestro, prisão, tortura e morte;
9.
Teríamos de tomar cuidado com o que disséssemos
perto de colegas de escola e de trabalho, vizinhos, conhecidos, até parentes,
pois qualquer um poderia nos delatar, em troca de alguma vantagem junto aos
donos do poder;
10.
Ainda existiria um DOPS, com o inacreditável
nome de Departamento de Ordem Política e Social, onde se prendiam pessoas pelo
crime de pensamento e opinião;
11.
Não poderíamos votar porque os mandantes nos
seriam impostos, nem a opinião pública poderia se manifestar.
Com a provável exceção dos estúpidos 55% da população
brasileira que acham que democracia não é indispensável, todos conhecem a frase
de Sir Winston Churchill: ”A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras
que têm sido tentadas de tempos em tempos." E a de Ulysses Guimarães, que
disse que "A grande
força da democracia é confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não
acontece com os sistemas totalitários, que se autopromovem em perfeitos e
oniscientes para que sejam irresponsáveis e onipotentes."
Só na democracia
é possível criticar até mesmo a própria democracia – e, de Saramago e Bernard
Shaw até ao Marquês de Maricá, há
comentários derrogatórios a ela em suficiente quantidade. Mas eu fico com Goethe: "A democracia
não corre, mas chega segura ao objetivo."
(artigo publicado originalmente na revista EntreLagos, de Brasilia)
segunda-feira, 16 de julho de 2012
A Cara Política da Empresa
Estou ousando começar hoje este blog para divulgar e comentar as iniciativas (e também as dificuldades) das empresas e entidades em sua função institucional, ou seja em sua interface com a comunidade e a sociedade.
Há inúmeros outros blogs que lidam com Comunicação, Jornalismo, Relações Públicas e Opinião Pública. Talvez exista, mas não conheço algum que trate exclusivamente das posturas e ações empresariais voltadas para seu relacionamento com a sociedade.
A idéia aqui é mais divulgar essas iniciativas do que escrever teoria. Prometo só cometer comentários quando tiver algo a dizer, não apenas para encher espaço. Quem trabalha com Assuntos Institucionais sabe que não é fácil divulgar, para um ambiente profissional, as políticas e as ações das empresas. O que é divulgado em geral é somente o aspecto que elas possam ter de "noticia" (boa ou ruim), não os por ques, os comos e os resultados percebidos pelas empresas.
No entanto cada vez mais as empresas estão sendo impelidas a não apenas "se relacionar", "dialogar" com as comunidades e sociedades, mas até mesmo a nelas intervir, para melhorar a vida das pessoas. As grandes carências sociais do Brasil provocam essa situação e o governo apoia essa intervenção e até obriga a ela, por reconhecer que não consegue suprir todas as necessidades da sociedade em todos os recantos do País.
Em consequência, as empresas passam a atuar em políticas públicas, papel que a rigor não lhes cabe, pois elas existem primordialmente para produzir e vender produtos e serviços, ganhando dinheiro com isso. Mas são forçadas a passar a ter uma "cara política" (no melhor sentido dessa palavra), para poderem obter a autorização, a licença diária da sociedade para operar.
Espero que meus colegas da área institucional das empresas e outras pessoas interessadas neste assunto colaborem com este blog. Mandem suas noticias, para divulgar seu trabalho. Essa é a finalidade deste novo espaço. Ele começa bem simplezinho, mas, se conseguir conquistar o interesse dos leitores e dos que ajudarem a construir seu conteúdo, prometo ir fazendo aprimoramentos com o tempo.
Um abraço a todos.
Há inúmeros outros blogs que lidam com Comunicação, Jornalismo, Relações Públicas e Opinião Pública. Talvez exista, mas não conheço algum que trate exclusivamente das posturas e ações empresariais voltadas para seu relacionamento com a sociedade.
A idéia aqui é mais divulgar essas iniciativas do que escrever teoria. Prometo só cometer comentários quando tiver algo a dizer, não apenas para encher espaço. Quem trabalha com Assuntos Institucionais sabe que não é fácil divulgar, para um ambiente profissional, as políticas e as ações das empresas. O que é divulgado em geral é somente o aspecto que elas possam ter de "noticia" (boa ou ruim), não os por ques, os comos e os resultados percebidos pelas empresas.
No entanto cada vez mais as empresas estão sendo impelidas a não apenas "se relacionar", "dialogar" com as comunidades e sociedades, mas até mesmo a nelas intervir, para melhorar a vida das pessoas. As grandes carências sociais do Brasil provocam essa situação e o governo apoia essa intervenção e até obriga a ela, por reconhecer que não consegue suprir todas as necessidades da sociedade em todos os recantos do País.
Em consequência, as empresas passam a atuar em políticas públicas, papel que a rigor não lhes cabe, pois elas existem primordialmente para produzir e vender produtos e serviços, ganhando dinheiro com isso. Mas são forçadas a passar a ter uma "cara política" (no melhor sentido dessa palavra), para poderem obter a autorização, a licença diária da sociedade para operar.
Espero que meus colegas da área institucional das empresas e outras pessoas interessadas neste assunto colaborem com este blog. Mandem suas noticias, para divulgar seu trabalho. Essa é a finalidade deste novo espaço. Ele começa bem simplezinho, mas, se conseguir conquistar o interesse dos leitores e dos que ajudarem a construir seu conteúdo, prometo ir fazendo aprimoramentos com o tempo.
Um abraço a todos.
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